Sinopsis
Cada nação se alimenta a seu modo. Quando foi necessário identificar os brasileiros com um cultivo, escolheu-se a mandioca. Em contraste, as nações andinas foram identificadas com o milho. O quadro de feitio nacionalista, já nítido no final do século XVIII, foi fixado pela historiografia romântica e só começou a mudar recentemente, graças à antropologia e à arqueologia.
Hoje se sabe que a historiografia romântica se baseou nos relatos dos cronistas coloniais, que viveram majoritariamente na costa, onde, de fato, predominou a mandioca. Mas já no século XIX o relato de viajantes, como Auguste Saint-Hilaire, vai nos mostrando um país diverso do ponto de visto alimentar, denunciando a forte presença do milho.
Sucessivas pesquisas arqueológicas foram confirmando, no século XX e início do XXI, o uso corrente do milho, em especial nos territórios outrora ocupados pelas tribos de origem tupi-guarani, espalhadas da Amazônia até os pampas, entrando pelo Paraguai, Argentina e Uruguai, de sorte que, hoje, a representação da alimentação dos brasileiros como prioritariamente associada à mandioca não passa de viés de uma historiografia que necessita, urgentemente, ser revisada.
Os capítulos do presente livro, escritos por especialistas, têm o propósito de levantar essa discussão a respeito da presença forte do milho na formação histórica do perfil alimentar do brasileiro de modo a se reconstruir a diversidade da sua dieta, seja no passado ou no presente.
Carlos Alberto Dória